segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Lineu de Paula Machado e suas éguas

Três putas correm na Lineu de Paula Machado.
Um homem gordo descalço larga o celta vermelho arreganhado em frente a um estacionamento fechado.
Elas galopam sorrindo, debochadas, na contramão dos que vão para o centro.

Acho que era a Lineu de Paula Machado, pouco antes do Jóquei, perto daquele boteco velho de esquina, antes do túnel, junto àquela obra que nunca termina.
Ele não iria conseguir alcançá-las, mas a dos peitos de fora ainda olhou para trás, duas vezes, até sumir do retrovisor.

Lineu de Paula Machado era dono de haras. Depois de ver sua égua de criação ganhar uma corrida disse que já podia morrer em paz. E morreu em seguida, num acidente de avião.

Mas a corrida não foi na Lineu de Paula Machado, foi na Valdemar Ferreira, quase esquina com a Rua Pirajussara, onde fica o Rei das Batidas (desde 1970). Maldito Google maps.




domingo, 26 de janeiro de 2014

de portas abertas

a porta abre.
posso apenas entrar, chorar e sair? Não me faça nenhuma pergunta...

a porta abre.
posso apenas entrar e chorar, sem ter de responder a nenhuma pergunta?

a porta abre.
posso apenas entrar e chorar?

a porta abre.
eu só vim para chorar, não responderei a nenhuma pergunta.

a porta abre.
só vim para chorar. Não quero ser consolada ou ter de responder a perguntas. Posso entrar?

a porta abre.
cale a boca e me abrace, que eu preciso chorar um rio. Não abra a boca, ou eu vou embora...

a porta abre.
você não consegue nem me receber quando eu mais preciso de você. Sei que você quer saber porque estou tão desesperada, mas não vou dizer nada. Só queria um colo amigo; vá se ferrar!

a porta abre, eu desabo e começo a contar tudo. Sujo a sua camisa com ranho e baba, saio leve e fecho a porta.


                                                                                                       Quando for algo sério, te procuro. Juro.